" Dás tudo pelo teu país, estás nos bons e nos maus momentos e quando chega a glória não fazes parte. Isso dói a qualquer ser humano"
Grande entrevista Séka Peli : Cláudio "Lito" De Aguiar
Dados pessoais:
Nome completo: Cláudio Zélito da Fonseca Fernandes de Aguiar
Data de nascimento: 1975-02-03
Posição: Avançado (Extremo esquerdo)
Clube atual: Pinhal-Novense
Clube anterior: Atlético CP
“Mas tarde
ou mais cedo vou entrar na seleção, só estou a espera do momento
certo.”
Desde
a sua estreia frente a Mauritânia em Nouakchott, Lito representou
Cabo Verde, por mais de dez anos e se transformou no atleta com mais
internacionalizações, na história do futebol cabo-verdiano.
Aos 38 anos, e já
depois de uma operação ao joelho, Lito assumiu que já não estava
nas melhores condições físicas e pendurou as botas. Porém, alguns
meses passados voltou atrás e regressou aos relvados. Saiba o porquê
e muito mais na entrevista concedida pelo experiente
futebolista e antigo capitão dos Tubarões Azuis
ao SEKA PELI Info.
A sensação
de ser o jogador mais internacional de sempre
“…sempre
com muito trabalho e lealdade…”
Lito representou
a seleção de Cabo Verde pela primeira vez no dia 6 de setembro de
2002 (num jogo frente a Mauritânia) lançado pelo então
selecionador Óscar Duarte. Certo? Conta-nos como foi a sua estreia?
R: Foi
sem dúvida um dos momentos mais altos da minha carreira como
jogador. Foi uma grande emoção, lembro-me como se fosse hoje. Ainda
mais porque joguei ao lado do grande avançado cabo-verdiano Toy de
Sal. E porque também, logo na minha estreia tive a felicidade de
marcar um golo e ganhamos por 2 a 0. O outro golo foi apontado pelo
Toy no final da partida e a alegria foi total.
Qual é
a sensação de ser o jogador cabo-verdiano com mais
internacionalizações?
R: É
sem dúvida uma sensação muito boa, porque faz-me sentir útil ao
longo destes anos todos. Acreditar que os treinadores que estavam a
frente da seleção confiavam no meu trabalho, isso para mim é muito
importante.
Aos 38 anos, e já
depois de uma operação ao joelho, assumiu que já não estava nas
melhores condições físicas e pendurou as botas. Porém, alguns
meses passados voltou atrás e regressou aos relvados. Porquê?
R: Sim
é verdade, fui operado ao joelho e como esta operação é delicada
e deixa sempre mazelas, ainda mais quando se tem 38 anos. Achei por
respeito as instituições e por tudo que consegui alcançar na minha
carreira, sempre com muito trabalho e lealdade, que era o momento
ideal para abandonar. Mas Deus quis que me despedisse doutra forma,
então aceitei o convite que me foi feito pelo atual treinador do
Pinhal-Novense, um antigo conhecido e amigo, como vivo no Pinhal Novo
acabei por aceitar o convite e graças a Deus as coisas tem corrido
bem comigo e com a equipa. Conseguimos ficar em 1º lugar e garantir
o lugar na 2ª fase para disputar a subida a Liga Cabo Visão.
Ao longo de uma
carreira de 17/18 épocas como sénior, em clubes como Académica,
Moreirense, Portimonense, Arouca ou Atlético, onde se sentiu melhor?
Onde sentiu que realizou a melhor temporada?
R: Sem
dúvida na Académica onde estive 3 épocas. Fiz mais ou menos 100
jogos contando com jogos de Taças e marquei 20 e poucos golos.
Atualmente está
a jogar e a servir de conselheiro no Pinhal-Novense? Fala-nos dessa
experiência.
R: Sim
é verdade. Quando o treinador contactou-me, disse-me que não me
queria só como jogador mas também como conselheiro dos mais novos,
para poder ajuda-los a crescer como jogador e como homem. E isso tem
dado frutos. Dialogamos sobre táticas, posicionamentos dentro do
campo… coisas ligadas ao sistema de jogo e para mim tem sido um
prazer fazer este tipo de trabalho.
Quando anunciar o
final da carreira pensa na possibilidade de continuar a dar o seu
contributo como dirigente desportivo em Cabo Verde? Por exemplo na
Federação Cabo-verdiana de Futebol.
R: Claro,
esse é o meu grande objetivo depois do adeus dentro das 4 linhas,
nunca escondi isso de ninguém e espero concretiza-lo o mais rápido
possível, quer na equipa técnica ou na estrutura da federação.
Cabe agora as pessoas que estão a frente da federação analisarem
onde posso ser mais útil.
O antes, o
durante e o pós-CAN 2013
“…muitos
jogadores só gostavam de representar a seleção quando jogávamos
em Cabo Verde ou quando íamos a um país mais desenvolvido (…)
para representar a nossa seleção temos que ter paixão, amor,
espírito de sacrifício e isso nem todos tem infelizmente.”
Lito teve colegas
que recusaram representar a seleção nacional. Uns escolheram outras
seleções, outros por causa das dificuldades que a seleção de Cabo
Verde enfrentava quando jogava fora. Qual a história que mais o
marcou pela negativa ao serviço da nossa seleção?
R: Sim
isso é verdade, muitos jogadores só gostavam de representar a
seleção quando jogávamos em Cabo Verde ou quando íamos a um país
mais desenvolvido e isso fazia-me muita confusão. Quanto a jogadores
que optaram por outras seleções, acho normal porque nasceram nesse
país ou porque escolhiam o melhor em termos financeiros e
desportivos. Mas para representar a nossa seleção temos que ter
paixão, amor, espírito de sacrifício e isso nem todos tem
infelizmente.
Certamente ficou
ainda mais triste quando soube que não fazia parte das escolhas de
Lúcio Antunes para a CAN da África do Sul. Era uma oportunidade de
terminar em grande.
R: Foi
o que mais me doeu no futebol. Ao longo de todos estes anos,
trabalhas, dás tudo pelo teu país, estás nos bons e nos maus
momentos e quando chega a glória não fazes parte. Isso dói a
qualquer ser humano e mais ainda, quando são chamados jogadores que
não participaram em nenhum destes momentos. É complicado, mas
aprendi com isso e hoje sinto-me mais forte.
O que sentia
sempre que via os seus colegas em campo? Qual é a sensação de
estar a torcer por fora sabendo que podia estar la dentro?
R:
Grandes
emoções, grandes alegrias e algumas tristezas, claro, por não
estar presente. Mas a felicidade é maior que a tristeza quando vês
colegas de luta, de sofrimento a viverem momentos únicos e a
escrever uma bonita página no futebol cabo-verdiano.
Como descreve a
participação dos Tubarões Azuis no CAN na Africa do Sul? O que é
que mais o surpreendeu pela positiva e o que é que faltou para irmos
mais longe?
R: Glorioso,
espetacular! Não fiquei surpreendido com nada em termos de equipa e
do futebol praticado, porque já sabia do valor do grupo e da equipa
técnica. Agora há que realçar as participações de alguns
jogadores como o Platini, que de segunda escolha acabou por ser um
dos destaques da CAN. Do Heldon pela sua grande qualidade, do nosso
grande maestro Babanco pela sua leitura de jogo e pela qualidade que
empoem no campo. Sem esquecer dos outros jogadores… Isso serve para
mostrar os valores que têm a nossa seleção.
Acho que nos faltou
uma pontinha de sorte em alguns momentos no jogo contra o Gana, mas
saímos de cabeça levantada.
Como foram os
primeiros cinco (5) minutos após saber que Cabo Verde tinha sido
afastado da eliminatória de acesso ao mundial 2014?
R:
Não
pode ser verdade, não acredito, deve ser uma pegadinha.
Foram estas as minhas palavras e depois quando cai em mim, comecei a
pensar como é possível o que aconteceu.
O que é que acha
que falhou?
R:
Organização,
comunicação, isto não pode acontecer em lado nenhum. Uma coisa é
meter um jogador que tinha levado o 3º amarelo e ter que cumprir 1
jogo de castigo, agora um jogador que foi expulso com vermelho e por
4 jogos, não da para entender.
Após essa
notícia falou com algum dos jogadores da seleção nacional? Qual
foi a reação deles? Por ser um jogador experiente o que tentou
passar para eles?
R: Sim
fiz questão de falar com 2 ou 3 jogadores e eles estavam em baixo. O
que é normal depois de tudo que fizeram e verem o trabalho a ir por
terra abaixo. Tentei acalma-los, para estarem concentrados nas suas
equipas dizer-lhes que não vale a pena estarem a tirar conclusões
precipitadas e que as coisas vão-se resolver. Mais não foi fácil!
Lúcio Antunes e
Bubista seguiram-se para o Progresso de Zambizanga. O Lito não pensa
na possibilidade de vir a ser o treinador dos Tubarões Azuis?
R: Claro
que sim. Mas tarde ou mais cedo vou entrar na seleção, só estou a
espera do momento certo. Pode ser daqui a meses ou daqui a 1 ou 2
anos, mais uma coisa eu sei, essa hora chegará.
Por ser o jogador
cabo-verdiano mais internacional de sempre, ninguém melhor do que si
para avaliar o desempenho da Federação Cabo-verdiana de Futebol.
Qual a sua apreciação daquilo que foi e tem sido feito até agora
pela FCF?
R: Excelente
trabalho. Se a seleção é hoje o que é, também é graças ao
trabalho do Mário Semedo e de outras pessoas que por la passaram,
como Eduardo Almeida. Pessoas que deram sempre a cara pelo nosso
país, fizeram sempre tudo para dar grandes condições aos
jogadores, por isso aquilo que foi conquistado até agora também é
mérito da FCF.
Ping-pong:
perguntas de respostas rápidas.
Qual o seu melhor
jogo com a camisola da seleção de Cabo Verde?
R: Cabo
verde vs Guine Conacri, 1 a 0 para Cabo Verde.
Qual o
selecionador que mais o marcou?
R: Alexandre
Alhinho
Quem foi o seu
ídolo?
R: Ronaldinho
Gaúcho
Qual
a mensagem que gostaria de deixar aos seus apoiantes?
R:
Quero
em especial agradecer a todos os cabo-verdianos, pelo apoio que me
deram durante estes 11 anos ao serviço da seleção nacional. O
sucesso que tive na seleção foi graças a eles e que apoiem cada
vez mais os Tubarões Azuis. Abraços para todos e para o SEKA PELI
continuação do bom trabalho e muitos sucessos.
Nilton Ravier
Cesare: Obrigado
pela conversa. Agradecemos tudo o que o Lito fez pelo futebol
cabo-verdiano. Obrigado pelo empenho e pela disponibilidade.
Por: Nilton
Ravier Cesare
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