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domingo, 13 de abril de 2014






Grande Entrevista com Lúcia Moniz






Dados pessoais
Nome completo: Lúcia Karine Tavares Moniz Semedo
Data de nascimento: 18 /04/1981
Equipa atual: Seven Stars

Posição: Médio Centro

Lúcia Moniz é sinônimo de humildade, motivação e superação. Nascida em um país onde o futebol feminino ainda luta para conquistar o apoio e o espaço facultado a outras modalidades desportivas, ela construiu o seu percurso, entre a sala de aula, o seu primeiro clube (Tapadinha) e a Escola de Preparação Integral de Futebol, EPIF, até ser reconhecida no território nacional como uma das melhores praticantes de uma modalidade em tempos dominada exclusivamente pelos homens.
Moniz concedeu uma entrevista ao SEKA PELI INFO, onde ela fala do seu percurso no futebol feminino, sem esquecer dos melhores momentos da sua carreira e da mensagem que gostaria de transmitir as meninas que pensam em seguir os seus passos. Confira os melhores momentos…



Na minha época era mais complicado porque os pais não aceitavam.”

Faça uma breve descrição da Lúcia Moniz enquanto jogadora de futebol.
Sou uma jogadora forte fisicamente e não muito dotada tecnicamente mas com um bom remate. Sou uma jogadora que joga pelo coletivo e que gosta de marcar golos …

Quando e como começou a se interessar por futebol?
Comecei a interessar pelo futebol quando tinha uns 12/13 anos e no liceu. Na altura fazíamos jogos “inter ruas” e no liceu porque houve um semestre em que a modalidade a ser lecionada era o futebol, o que me despertou um certo interesse…

Quais são as dificuldades que uma menina enfrenta quando decide ser jogadora de futebol?
Na minha época era mais complicado porque os pais não aceitavam. Hoje vê-se mais na televisão, fala-se mais do futebol, há mais apoio dos pais e uma maior abertura e acredito que acabam por incentivar mais e mesmo nas escolas na educação física já ensinam futebol não só aos rapazes …

Nota alguma diferença no tratamento dado as mulheres que jogam futebol em Cabo Verde em relação ao tratamento dado aos homens?
Claro a diferença é grande, por exemplo em Santiago Sul o campeonato masculino já está no fim e o nosso irá iniciar agora, ou seja visto assim a prioridade é o futebol masculino quando termina é que o feminino começa … e penso que as coisas podiam ser diferentes. Acho que se podia perfeitamente fazer em simultâneo. E existem algumas competições de futebol em Cabo Verde que são feitas apenas em masculino a Taça Independência (Inter ilhas), e a Taça da Praia (na cidade da Praia). Hoje em dia a maioria das equipas masculinas, pelo menos na Praia, pagam os seus jogadores. Podemos dizer que são semiprofissionais, o que não acontece com o futebol feminino…

Na sua opinião, qual o maior obstáculo para o ingresso das mulheres num clube de futebol?
O preconceito, se bem que hoje em dia existe menos, a carência das escolas de futebol que trabalham ligadas ao futebol feminino, a falta de apoio ou patrocínios faz com que as equipas também não apostem no futebol feminino e sendo assim, sem divulgação e sem condições, as miúdas mesmo que dedicadas acabam por perder o interesse e muitas vezes escolher uma outra modalidade.

Lúcia Moniz é considerada das melhores jogadoras do futebol feminino de Cabo Verde. Poderia haver um risco de acomodação. Onde encontra motivação para evitar isso e continuar a jogar?
Nunca fui considerada a melhor jogadora de futebol em Cabo Verde, mas em 2012 ganhei o prémio de melhor jogadora da cidade da Praia. Eu não me acomodo gosto de jogar futebol e exijo sempre o melhor de mim e não gosto de perder e para não perder e estar a um nível sempre elevado, tenho que trabalhar e dar o meu máximo a cada treino, chegar aos jogos e por em prática.

Há jogadoras, colegas de equipa e adversárias, que declaram serem fãs sua. O que acha disso?
A sim? Não sabia… fico feliz por saber que as minhas adversárias/colegas gostam da minha maneira de jogar, admiram-me e reconhecem o meu valor. Dá-me uma maior responsabilidade de trabalhar e estar sempre num bom nível e tentar ser um bom exemplo para elas. Eu também sou fã de muitas jogadoras de Cabo Verde. É difícil não ser fã temos várias jogadoras talentosas.

Na altura da realização da Gala do Desporto Cabo-verdiano, edição do ano 2013, na sua página do Facebook, Lúcia queria saber o porquê da ausência do futebol feminino. Alguém chegou a falar consigo sobre o assunto? Passados alguns meses qual é a sua opinião sobre o mesmo?
A nossa direção não ficou parada. Reclamamos e acabamos por ser comtempladas com o merecido prémio. Eu acho que iniciativas dessas por parte dos organismos que tutelam o nosso desporto são louváveis e devem continuar, mas os critérios de seleção/nomeação devem ser claros e todas as equipas devem ter conhecimento do regulamento para que depois não haja equívocos, reclamações e tentativas de exclusão.

Atualmente a Lúcia faz parte do Seven Stars, atual campeão nacional do futebol sénior feminino tendo vencido na final o Mindelense por 2-0, com o primeiro golo a ser marcado por si. É de notar que esta equipa do Seven Stars é composta toda ela pelas antigas jogadoras da EPIF que já se tinham consagradas por duas vezes consecutivas campeãs de Cabo Verde. Fala-nos dessa mudança ou dessa nova experiência.
Sim marquei um golo na final muito importante para mim porque estava lesionada e fiz o campeonato a meio gaz. E o golo acabou por motivar a minha equipa e acabamos por vencer e quanto a mim fomos justos vencedores. A equipa do Seven Stars do ano passado toda ela era composta por ex-jogadoras da EPIF, foi uma mudança rápida. A duas semanas do campeonato começar tivemos uma reunião e decidimos que as coisas como estavam na EPIF não poderiam continuar e como há um ditado que diz que “quem está mal é que deve mudar” então decidimos mudar.
Como capitã e porta-voz do grupo comecei a procurar soluções e através da jogadora e sub-capitã Elsa tivemos uma reunião com o Sr. Gil Èvora do Seven Stars que nos recebeu muito bem e mostrou-se entusiasmado com o novo projecto e depois a direção do Seven Stars decidiu abraçar o projecto de futebol feminino, que no primeiro ano foi campeã Regional e Nacional.
É claro que o trabalho de base já estava feito pela EPIF foram muitos anos e estávamos habituadas a jogar juntas, mas a mudança trouxe às jogadoras um novo entusiasmo uma nova motivação. E com o trabalho que foi realizado pela equipa técnica do Seven conseguimos atingir o nosso objetivo que era sermos campeãs, e desde então não perdemos nenhum jogo.
Agora estamos a preparar para começar o campeonato Regional com o objectivo de defender o título. A experiência tem sido positiva, aliás antes não tinha a noção do trabalho do Clube Seven Stars, hoje estou por dentro e sei da dimensão do trabalho do clube e aproveito para agradecer à direção e ao Gil por ter acreditado e apostado em nós. 



(…)fiz grandes amigos e hoje tenho boas amizades graças a minha passagem na EPIF.”


Já agora conta-nos com foi a sua formação na EPIF.
O meu percurso no futebol começa por falar antes da EPIF. Comecei no futebol com 15 anos. Treinava no campo «Baxu Rubera» de Paiol, também treinava futebol de salão com a Equipa da Empa. Depois comecei a jogar com a equipa da minha zona, Achadinha, que se chamava Tapadinha. Nessa altura faziam muitos torneios Inter Zonas e ganhávamos sempre. Tínhamos uma equipa muito forte. Lembro-me que na época fizeram uma seleção de Santiago que iria participar num torneio inter ilhas no Sal e fui selecionada. Só da minha equipa erámos 9 jogadoras e fomos campeãs. Na altura tinha 17 anos, as outras jogadoras eram mais velhas, com mais experiências e fui aprendendo com elas.
Mas não eram escolas de futebol, não havia muito tempo e condições para ensinar e fazer um trabalho de base. Cheguei à EPIF com 19 anos e já tinha passado 4 anos a jogar, mas sentia necessidade de aprender mais. E na EPIF tive essa oportunidade aperfeiçoar o meu futebol. Aprendi muito, viajei com escola para ir jogar nas Canárias e Holanda que foram dois grandes projectos enquadrando o futebol feminino onde tivemos uma excelente prestação. Tive praticamente 13 anos intercalados na EPIF.
Fui estudar em Portugal, mas sempre que vinha de férias treinava e jogava na EPIF e quando regressei de vez voltei a jogar na EPIF. Ou seja, a EPIF foi a minha família no mundo do futebol, onde aprendi não apenas lições do futebol mas da vida, fiz grandes amigos e hoje tenho boas amizades graças a minha passagem na EPIF. A maioria dos títulos importantes que conquistei foi com EPIF.
Neste momento estou noutro projecto mas tenho uma forte ligação à EPIF e uma boa relação com o pilar da EPIF, que é o Mister Djedji. Preocupo-me em saber se tudo está a correr bem e sei que se a EPIF precisar de mim e eu da EPIF iremos nos ajudar mutuamente. E acredito que se não tivesse na altura optado pela EPIF não teria tanto sucesso no futebol. Quem passa pela EPIF e quem viveu a EPIF fica sempre com o sentimento de família e com uma grande ligação e carinho pela escola.

Não fica com um amargo de boca sabendo que poderia dar mais ao seu país, se por acaso tivéssemos uma seleção nacional de futebol feminino?
Claro que sim. Quem joga sonha sempre em representar o seu país e temos tantas jogadoras de qualidade em Cabo Verde e mesmo fora do país. Certamente teríamos uma boa seleção. No ano passado no Campeonato Nacional de Futebol Feminino ficou a promessa por parte do Sr. Mário Semedo que a selecção de Futebol feminino estaria para breve. E acredito que agora com o sucesso dos tubarões azuis a FCF esteja a preparar para iniciar com a selecção feminina de Futebol, tudo tem o seu processo e o seu tempo e penso que chegou a nossa vez. E assim como aconteceu com o masculino iremos certamente ter sucesso, porque o que não nos falta é talento.

Como descreve a participação dos Tubarões Azuis no CAN na Africa do Sul? O que é que mais a surpreendeu pela positiva e o que é que faltou para irmos mais longe?
Eu vi a selecção a jogar e via as outras selecções e sentia que iríamos fazer uma boa prestação na CAN o que acabou por acontecer. Os jogadores estavam motivados. O país conseguiu transmitir uma energia positiva e a participação foi espetacular. Foi pena não conseguirmos vencer o Gana mas jogamos muito bem e penso que a nossa participação foi positiva e que surpreendeu muita gente.  


Todos os prémios de melhor jogadora e melhor marcadora que recebi ficam sempre na memória como grandes momentos porque é sempre o reconhecimento do trabalho.”


Qual o acontecimento que descreve como sendo o mais bonito na sua carreira?
Não consigo descrever apenas um momento. Tenho alguns bons momentos tanto no Futsal em Portugal como no Futebol de 11. Mas o primeiro grande momento foi na final inter ilhas, na Ilha do Sal, onde marquei o primeiro golo da Selecção de Santiago e ganhamos por 2.1.
Todos os prémios de melhor jogadora e melhor marcadora que recebi ficam sempre na memória como grandes momentos porque é sempre o reconhecimento do trabalho.
Lembro-me também de um empate frente a equipa do Benfica quando jogava nos Leões. O Benfica já não perdia e nem empatava a 2 anos e nós conseguimos arrancar um empate ao Benfica e nesse ano a nossa equipa ficou em 3ºlugar, melhor classificação conseguida pela equipa dos Leões do Porto Salvo num campeonato regional de Lisboa.
Mas não posso deixar de destacar a final do campeonato nacional do ano passado contra a equipa do Mindelense. Num ano de mudanças e de grandes sacrifícios, tanto para mim como para as minhas colegas de equipa, e de muitas lesões, mas no fim veio a grande recompensa conseguimos atingir o nosso objetivo que era sermos campeãs nacionais. E levantar o troféu de campeã nacional é sem dúvida um grande momento.

Qual a mensagem que gostaria de deixar as meninas que pensam seguir os seus passos?
Que não desistam de jogar futebol. Hoje o futebol feminino vai ganhando cada vez mais o seu espaço e hoje podem estar em Cabo Verde a jogar e amanhã podem estar numa equipa de nível mundial. Encarem o futebol com seriedade, não desanimem com os obstáculos que vão aparecendo pelo caminho, divirtam-se a jogar futebol e mostrem que Cabo Verde tem grandes jogadoras, trabalhem sempre com muita dedicação, muito querer, muita força e muita humildade. Acredito que muitas têm espaço no futebol internacional como aconteceu no ano passado que foram 3 jogadoras do Seven para Portugal .

Quem é o seu ídolo?
Klismman pela facilidade que tinha em marcar golos. Ronaldinho Gaúcho pela sua habilidade e magia. Zidane pela forma de saber tratar a bola e de momento o Messi pela simplicidade de jogar futebol fazendo parecer que é tudo fácil.

O SEKA PELI INFO agradece a sua entrevista, o empenho e a disponibilidade.

Por: Nilton Ravier Cesare








2 comentários:

  1. São entrevistas como estas é que deixam as cabo-verdianas orgulhas pela nacionalidade e pela raça. E com vontade de perseguir os seus sonhos.
    Parabéns pele entrevista

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    1. Pois é Romina Perrerira Vaz. E... Lucia! Parabens pela entrevista, sobretudo pela humildade i gratidao pela nossa casa, EPIF. Tal como Kuka, falaste sobre a importancia da EPIF, na tua vida. E isso nos deixa contentes e orgulhosos ao ver esta declaração pq e um gesto nobre vindo de um atleta q passou pela EPIF e q teve sucesso na vida e no futebol. Este e um gesto raro no seio dos demais jogadores q passaram pela EPIF e q hoje atingiram o sucesso tanto na vida como no futebol. Espero q tanto a sua entrevista como a do Kuka os sirvam como exemplo. Força ai... e q Deus lhe dê mais sucesso na tua vida e na tua carreira. Um abraço. Palo

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