Grande Entrevista Séka Peli Info com Nivaldo Semedo
Dados pessoais
Nome completo: Nivaldo Semedo
Data de nascimento: 31-12-1981
Clube: Boavista Futebol Clube da Praia
Função: Vice-Presidente
Nivaldo Semedo, nascido no seio de uma família amante do futebol,
é sinônimo de humildade, motivação e muita perspetiva para o futuro.
Depois de regressar do Brasil, país onde fez os seus estudos, com
o intuito de dar o seu contributo efetivo ao Boavista, Nivaldo, com o aval do
presidente, teve a ideia de reunir
“um grupo de amigos, um grupo de jovens e competentes quadros” com o objetivo
de “constituir uma mais-valia não só para o Boavista Futebol Clube da Praia,
mas também para o desenvolvimento do futebol cabo-verdiano”. Estava assim dado
o primeiro passo para que o jovem cabo-verdiano abraçasse o dirigismo
desportivo e logo num dos campeonatos regionais mais disputado de Cabo Verde.
Semedo concedeu uma entrevista ao SEKA PELI INFO, onde
ele fala da satisfação em ver o clube do seu “coração evoluir,
ultrapassando barreiras, obstáculos e metas, que eram impensáveis há um par de
anos”. Naturalmente, apontou os objetivos a serem alcançados assim como as
conquistas conseguidas até a presente data. Confira os melhores momentos…
“(…)o
nosso futebol necessitava principalmente da ousadia que é uma característica
bem presente no DNA dos mais jovens.”
Como
é que se deu a entrada do Nivaldo Semedo no mundo do futebol e particularmente
numa função (dirigente) até aqui mais dominada pelos veteranos?
R:
A
minha entrada no mundo do futebol deu-se de forma natural, visto que comecei a
frequentar o
Estádio da Várzea ainda na barriga da minha mãe, que mesmo grávida
não falhava os jogos, e
desde essa altura tornou-se um hábito, uma paixão, e
nunca mais deixei de acompanhar, exceto
quando fui ao Brasil estudar, mas mesmo
à distância seguia de perto e quando concluí os estudos,
regressei a Cabo-Verde
e achei que era o momento certo para dar o meu contributo mais efetivo
ao BFC,
em termos de organização e estrutura. Foi nesse momento que decidi abraçar o
dirigismo desportivo.
Ao
entrar para o mundo do futebol o que é que traçou
como objetivo pessoal, para o bem
da mesma modalidade em Cabo Verde? O Nivaldo
em algum momento disse para si
mesmo: “Eu quero mudar isto e aquilo?”
R: Naturalmente
que sim! O futebol cabo-verdiano, nomeadamente o da Praia, precisava
(e ainda
precisa) de tomar novos rumos. Os dirigentes mais antigos fizeram muito pelo
futebol
e continuam a fazer muita falta ao futebol, mas indubitavelmente o
nosso futebol precisa de
novas ideias, novos métodos e novas filosofias. Para
dar maior sustento ao trabalho efetuado
até agora, o nosso futebol necessitava
principalmente da ousadia que é uma característica
bem presente no DNA dos mais
jovens.
Dito isto,
qual é a sensação de estar a contribuir para a evolução do Boavista, em
particular?
R: Para
mim é um orgulho e satisfação sem precedente ver o clube do meu coração
evoluir,
ultrapassando barreiras, obstáculos e metas, que eram impensáveis há
um par de anos.
“Em
termos organizacionais temos vindo a trabalhar de forma estratégica e para um
Boavista de referência a todos os níveis(…)”
Já
agora qual o objetivo do Boavista a médio e a longo prazo?
R: No
plano desportivo o Boavista FC da Praia participa em qualquer competição com o
objetivo de vencer. Na época passada ficamos na quarta posição do campeonato
Regional de
Santiago Sul. Num ano em que considerámos ser o ano de
reorganização profunda.
Este ano porém,
quisemos mudar esse cenário, reforçamos cirurgicamente a equipa e o resultado
até agora tem sido satisfatório, pois lideramos de forma isolada o campeonato
regional e estamos
na final da Taça de Santiago. Portanto, temos uma excelente
oportunidade de conseguir
a famosa “dobradinha” que mais que um desejo torna-se
uma meta e objetivo para a equipa
técnica, jogadores e dirigentes.
Com a entrada dos mais jovens na direção do Boavista, o clube tem
surpreendido os
adeptos e os adversários pela positiva através das medidas adotadas.
Quais as outras
medidas de reestruturação que tem em curso?
R: Em
termos organizacionais temos vindo a trabalhar de forma estratégica e para um
Boavista de referência a todos os níveis, um Boavista apostando no marketing e
merchandising, um Boavista com uma visão empresarial, um clube com os seus
deveres
e compromissos em dia, resumindo em uma palavra um Boavista
sustentável.
Como funciona a direção do Boavista? Como foi feita a divisão de poderes?
Os adeptos
gostariam de saber como funciona essa mistura entre veteranos e
os mais jovens.
R: O clube teve o
seu ponto de viragem quando (com o aval do Presidente) reuni um grupo de
amigos, um grupo de jovens e competentes quadros, que na altura senti que
efetivamente poderiam constituir uma mais-valia não só para o BFC, mas também
para o desenvolvimento do futebol cabo-verdiano.
Na
altura a árdua tarefa foi sensibiliza-los para o facto do desporto em geral não
se resumir apenas às habituais discussões entre Benfica e Porto, Messi e
Cristiano Ronaldo etc, etc… enfim, mostrar-lhes que havia futebol para além da
Sporttv.
Foi
apresentado a cada um deles um projeto ambicioso que consistia no ressurgimento
deste grandioso clube e em simultâneo contribuirmos para a valorização do nosso
desporto. O desafio foi muito bem aceite, e posso afirmar inclusive que a
esmagadora maioria desses jovens abraçaram de forma firme o projeto.
A
partir daí tudo aconteceu de forma natural, sentamo-nos à mesa e traçamos
detalhadamente o caminho que este clube iria trilhar em busca do sucesso. O
trabalho que tínhamos pela frente era gigantesco, e foram necessárias várias,
intermináveis e produtivas reuniões.
Na
primeira época apesar de várias tentativas não conseguimos um patrocinador
oficial, mas sim importantes parcerias como o da Clinica Medici e do Ginásio
E-Fit. Era o ano zero, o ano da adaptação e primeiros contactos com uma
realidade até então desconhecida para a maioria dos jovens dirigentes.
Dividimos
o clube departamentos (Financeiro, Desportivo, Marketing, Disciplinar, Médico e
Jurídico) e em cada um deles há um responsável. Apostamos no marketing e no merchandising,
escola de formação e angariação de sócios.
Somos
hoje um clube com um forte cariz social, um clube voltado para as causas sociais
ajudando os menos favorecidos tais como as crianças da Aldeias SOS. Apoiamos a
organização de uma campanha de angariação a favor das vítimas do Vulcão do Fogo
e também efetuamos entrega de materiais escolares e não só às crianças na
localidade de Ribeirão Boi.
Em
apenas 7 a 8 meses de trabalho reforçamos a credibilidade do clube, modernizando-o
e definindo uma visão estratégica clara e objetiva.
O Boavista,
se não estamos em erro, tem dois grandes patrocinadores a Unitel Tmais e,
mais
recentemente, o Novo Banco. Poderia nos explicar em que consiste os acordos
com
essas duas instituições.
R: Para além desses dois
patrocinadores referidos, temos também outros que acreditam no trabalho que o
clube está a desenvolver. Cada um apoiando na medida dos possíveis, mas todos
satisfeitos com a valorização das respetivas marcas. A Unitel T+ e o Novo Banco
identificaram no Boavista uma aposta para a visibilidade.
Essas
empresas viram no Boavista FC um clube organizado, um clube sério que apresenta
um diferencial em relação à maioria dos outros clubes, e quando assim é
abrem-se novas portas. A realidade é que após poucos meses de parceria, as
referidas empresas mostraram toda a sua satisfação pelo retorno e visibilidade
que o Boavista tem dado e que de certeza continuará a dar às empresas que
abraçarem este projeto.
De
realçar também que temos mais empresas parceiras que também acreditam na
sustentabilidade do projeto e na importância da componente social que a nossa
realidade tanto precisa.
Como avalia o futebol de formação
em Cabo Verde, tanto a nível de clubes como de seleções?
O que já foi feito, o
que falta fazer e qual o papel do Boavista no meio disto tudo?
R: A seleção teve um papel
importante na visibilidade internacional do nosso futebol e devemos muito ao
trabalho desenvolvido pela FCF, algo que tudo devemos fazer para preservar e
melhorar. A nossa seleção, que tem vindo a estar cada vez mais organizada e com
melhores jogadores, resulta também da oportunidade que jovens os cabo-verdianos
tiveram de praticar o futebol durante a sua infância, na sua maioria em Cabo
Verde. O Boavista acredita que na formação é que está o futuro do nosso
futebol, tanto para continuar as boas prestações dos nossos Tubarões Azuis, mas
também para melhorar o nível do futebol nacional e a competitividade dos nossos
campeonatos. O clube tem um projeto de formação e já começou a dar os primeiros
passos. É um firme objetivo.
Como adepto, o que é que espera do
Boavista da presente temporada?
R: Se
me perguntares na qualidade de adepto digo-te que quero ganhar tudo, Taça da
Praia,
Campeonato Regional e Nacional (risos). Na qualidade de dirigente, tenho
ainda mais
motivos para acreditar que temos todas as capacidades e condições
para alcançar esses
objetivos, considerando o trabalho que está a ser feito.
Naturalmente é uma competição, futebol
não é uma ciência exata, existem outras
agremiações com as mesmas ambições e objetivos que o
Boavista e no final só
pode haver um só vencedor. Cada jogo é encarado como uma batalha pelos
nossos
jogadores e para nos vencerem terão que suar muito.
“Queremos um Boavista a lutar pelos
títulos nacionais e com os olhos postos na Liga dos
Campeões Africanos.”
Como é que surgiu a ideia de juntar
o Nelito Antunes e o Humberto Bettencourt na mesma
equipa? Algo, até o momento,
inédito no futebol cabo-verdiano.
R: Foi uma decisão em perfeita
sintonia com o nosso treinador principal da época transata, o Nelito Antunes.
O
Plantel desta época é muito diferente da última época, fomos a equipa que mais
se reforçou e naturalmente as exigências seriam maiores este ano. O
departamento desportivo reuniu-se com o Mister Antunes e chegamos a conclusão
que, assim como o plantel, havia a necessidade de reforçar a equipa técnica.
Fomos
convidados a participar num Torneio do Município da Brava, e foi quando
convidamos o Mister Humberto para juntar-se a equipa na preparação ao referido
Torneio. Ele aceitou e assumiu as rédeas da equipa juntamente com o Nelito
durante três semanas de treino de preparação para o Torneio.
Participamos
e vencemos o Torneio. Porém, mais importante que a vitória no torneio foi o
visível entrosamento e empatia que havia entre os dois treinadores e o grupo de
trabalho. Posteriormente, e sempre em concertação com o Mister Nelito,
decidimos avançar para a contratação do Humberto Bettencourt. Até agora podemos
afirmar que estamos convencidos de ter tomado a decisão correta.
Se o Boavista for campeão nacional,
a direção tem um projeto que visa participar na Liga
dos Campões Africanos?
R: Mais
do que um sonho é uma meta a longo prazo. Queremos um Boavista a lutar pelos
títulos
nacionais e com os olhos postos na Liga dos Campeões Africanos. Um dos
grandes sonhos
desta nova direção é voltar a colocar o Boavista nessa
prestigiante competição, onde já esteve
presente. Temos um grupo de jogadores
ambiciosos e acima de tudo trabalhadores, que merecem
uma oportunidade
fantástica como esta. Mas temos a plena consciência que será uma tarefa
monstruosa
reunir todas as condições, principalmente a financeira. Teríamos que envolver
apoios de instituições, patrocinadores e da sociedade civil no seu todo. No
entanto estamos
confiantes que conseguiríamos esse feito.
Em Santiago Sul temos tido muitos
jogadores a assinaram com dois clubes ao mesmo tempo,
gerando conflitos entre
os clubes e os jogadores em causa. Na sua opinião, o que deve ser
feito para
combater esse problema?
R: Esse é de facto um dos problemas
mais sensíveis na parte organizativa do nosso campeonato regional, assim como
acontece em várias outras regiões desportivas de Cabo Verde. A informatização
das associações e a penalização adequada dos clubes e jogadores que
infringirem, poderia ajudar a resolver esta questão. Entretanto acredita-se que
é um problema resultante das condicionantes da nossa sociedade, e que um
esforço a todos os níveis (federação, associações, clubes/dirigentes e
jogadores) poderá minimizar o impacto do mesmo.
“O investimento nas camadas jovens
é algo que deve ser encarado com muita seriedade,
tranquilidade, afinco e
determinação.”
Como dirigente de um dos melhores
clubes do país, gostaríamos de saber como é que, na sua
opinião, o deporto e o
futebol, mais concretamente, deve ser explorado nas diversas ilhas.
R: Analisando os números dos jovens
que estão desempregados e que não estudam, é assustador e todos devemos
contribuir com ideias e soluções. O investimento nas camadas jovens é algo que
deve ser encarado com muita seriedade, tranquilidade, afinco e determinação.
Esse investimento deve ser acompanhado também com formação paralela, em áreas
não relacionadas com o desporto. Devia-se também dar maior importância à
legislação e aos regulamentos existentes, tanto a nível nacional como
internacional e agir em conformidade adotando as estratégias adequadas às
mesmas.
Onde é que gostaria de ver o
Boavista quando deixar a direção do clube?
R: O atual Presidente do clube já
leva cerca de 30 anos nesta direção e já venceu tudo o que haveria para ganhar
a nível Regional e Nacional. Eu como dirigente já tenho um Campeonato Regional,
uma Taça de Cabo Verde e um campeonato Nacional. Atualmente ocupamos o Top 3 do
futebol cabo-verdiano, mas se me perguntar daqui a 30 anos como gostaria de ver
o Boavista FC da Praia responderia: como o número 1 em Cabo Verde em termos de
títulos, de organização e de todos os outros aspetos socio-desportivos
diretamente ligados ao futebol. Digo mais, gostaríamos essencialmente de deixar
um modelo de gestão sustentável, para que a passagem de testemunho entre as
próximas geração de dirigentes seja feita de uma forma mais tranquila e
saudável possível.
Por: Nilton Ravier Cesare
0 comentários:
Enviar um comentário